O BRANCO DE KÉTILA
- ANDRÉA FAVILLALOBO
- 9 de jun. de 2018
- 1 min de leitura
Talvez minhas palavras não tenham muito a ver para uns. Mas se elas me vêm mais que à cabeça, me vêm aos olhos e à pele, então tem tudo a ver. Me disseram branco. Então me questionei. branco? Não gosto. branco é o nada, o vazio. Me pesa a vista dando até dor de cabeça. Geralmente associam o branco ao bom, à paz. Instantaneamente me pergunto sempre: paz para quem? No contexto social no qual vivo, eu menina preta, lésbica e de família pobre, é negativo. É opressor. Sempre que me falam sobre o branco, a repressão me vem à mente, é incontrolável. Não é o só branco. branco por branco em si. Mas o significado do branco, o agir branco, o falar branco, o pensar branco é que me pesa. É o branco que apaga o preto. A polícia é branca, o estado é branco, a sociedade é branca até quando é preta, a universidade é cheia de doutos brancos e blocos brancos que constituem a sociedade branca, que fala branco e pensa branco e age branco. E eu, esse ponto preto que constitui o meio disso tudo, não aguento mais tanto embranquecimento, que passa por cima de mim e me dilacera. Como já disse Cristiane Sobral, me vê, mas não me enxerga. Eu quero é a cor, e as cores, todas elas. E que todos vejam, e que todos apreciem, porque o branco me dói a vista, que em pouco tempo de vida já está tão cansada.

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