VIAJANTES -
- ANDRÉA FAVILLALOBO
- 19 de jun. de 2018
- 2 min de leitura
marmeladov em lisboa
um homem
no topo de uma escada desce
cambaleante
degrau por degrau sem apoio do corrimão até
a plataforma do metrô
estação do chiado
gasta pelo menos três minutos
degrau por degrau
depois
entra no trem e senta-se
em câmara lenta
no banco as duas pernas viradas para o corredor
o trem retoma o movimento
ele enverga
o tronco cai para frente sobre
suas pernas como
um fio de arame
maleabilíssimo
e dorme profundamente
no embalo das chacoalhadas
próprias de trem que voa sobre trilhos
sob o olhar atento de alguns que
esperam dele um pequeno que seja
desequilíbrio que não vem
suas mãos apoiadas nos joelhos
semi vistas
por debaixo das mangas
estão inchadas pele fina
estufada e vermelha
casaco calças cor de creme tênis
pretos cachecol marrom cabelos
cheios semi penteados
o trem para
penúltima estação
ele desenverga
automaticamente
mantem a cabeça pouco inclinada
para frente
pisca pesado até
recomeça o movimento do trem
sua respiração cede
vagarosamente
seu tronco
se adapta
novamente
ao balanço do trem
última estação
levanta
subitamente
sai do vagão
mecanicamente
braços pendurados ao longo do corpo sobe
escada rolante
parado no degrau
dormita
ligeiramente
inclinado
até ser cuspido no andar de cima
para um instante
os pés o arrastam
novamente
passos curtos
ritmados
carregam-no para fora da estação
encostam-no a uma parede
dorme em pé
um minuto
acorda
um espasmo
como os carrinhos
de controle remoto
toma outra direção
desvencilha-se da parede
semi acordado
semi apagado passo a passo
aproxima-se do lixo
inclina a cabeça
enfia um braço
retira uma garrafinha d'água tem
um dedo d'água ainda abre a
tampa da garrafa tão d e v a g a r
quanto a bebe e no
rótulo o nome da marca
"caldas de penacova" inclina
a n
l c
d l
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c
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Miwa Yanagizawa (maio de 2018)
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