Procurei o silêncio numa boca fechada e não encontrei.
Procurei o silêncio numa mente vazia, mas os discursos renitentes inundavam meus pensamentos.
Onde o silêncio se esconde?
Insisti na busca das ausências de palavras em torno das paredes brancas e encontrei manchas e dor.
Catei os pedaços de silêncio nos cacos de vidro espalhados pelo chão e me surpreendi com as imagens repartidas nas molduras das fotografias.
Amarrei meus pulsos para que não caminhasse em direção aos pesadelos e me tornei uma sonâmbula perambulando num mundo em ruínas.
Descobri que o silêncio se esconde em lugares inusitados, cantos esquecidos da alma, nos quartos em meia luz e num céu cheio de estrelas que invade meus olhos.
Descobri que o silêncio te embala na música mais doce, nos ternos afagos e nas preces sentidas.
Colei na boca uma fita para me impedir o vômito das amarguras enclausuradas em partes distintas de meu corpo, em camadas intangíveis do meu espirito.
Travei o grito para que permanecesse guardado, com a esperança que se transformasse em arte.
Permaneci quieta por fora e quase inerte por dentro, como uma boia jogada entre ondas que se movimentam na praia.
E como num eterno retorno, constatei que o esforço do silêncio habita meu cotidiano desde o primeiro choro num berço vazio.
Andréa Favilla
Em 09/05/2018
