Fiquei pensando sobre o prefixo trans e não pude deixar de associar àquilo que te atravessa, de uma forma tão avassaladora que não te permite fugir e te dispõe num estado de busca de caminhos cruzados. Durante muito tempo a ideia da encruzilhada me assombrou como algo ruim, do mal, imperfeito, um simulacro, espaço de mandingas e de pactos diabólicos. Desde então, fugir das encruzilhadas se tornou uma meta. E quanto mais dissimulava um caminho perfeito, com bordas, reto, limpo e sem esquinas, mais me angustiava com meus pesadelos de encontros em cruzamentos desconhecidos. Permaneci algum tempo anestesiada em minhas doutas verdades, com medos infundados e discursos prontos que me afastavam de uma subjetividade exposta, capaz de se lançar em seus atravessamentos. Percebi o desejo que me transbordava em linhas transversais, não lineares e despertei numa encruzilhada inevitável e tentadora. Porque sim, nas esquinas também se produzem encontros, nas esquinas encontramos espelhos sem fundo, nas esquinas assumo que ignoro boa parte de mim.
Num grito sufocado sussurro a coragem do compromisso com a parrhesia, não como simples retórica da ousadia da verdade, mas na concepção de Foucault, de uma ética em que nos envolvemos com a verdade, na exposição de nossas trans parencias, de nossos trans vios das nossas trans mutações.
Andréa Favilla